/“The Tramp is a Lady” – Comentário do psiquiatra João Marcelo Portela, frente ao ocorrido em uma “apresentação de pacientes”.

Que espécie de poesia é esta que a psicanálise põe em causa para fazer resgatar em ato a dignidade de uma mulher? Mulher esta que se sente “em casa” num hospital psiquiátrico? Momentos antes da entrevista Forbes comentava Drummond, relembrando que a dor é inevitável mas o sofrimento é opcional.

Ora, em nenhum momento tivemos um esforço de Forbes no sentido de demover a paciente de um gozo a partir da identificação ao sofrimento; não fora este o seu expediente porque ali o sujeito não estava; e rapidamente Forbes percebera isto; motivos de sobra para debulhar um terço de queixas certamente a paciente tinha; mas isto ela não fez; surpreendentemente não foram as alucinações objeto de estudo; não houve pesquisa quanto à natureza e prevalência dos “duendes”, “dragons” e outros; a narrativa de cada tentativa de suicídio não despertou atenções…

Se por um lado Forbes soube ouvir de forma atenta a todas as misérias de sua existência foi para sustentar, em testemunho, a sua coragem : “você sempre soube se fazer respeitar”.

A pergunta, o endereçamento e a sugestão de Forbes na direção de uma busca ao pai não é desmedida. É certo que o pai apazigua, alivia. Mas não fora na vertente de um apelo ao pai que Forbes lhe sugeriu que iniciasse sua pesquisa. É que as origens de uma mulher, d’A Mulher, se encontram no desejo de um pai… antes do nome-do-pai há o amor de pai…

Se a histeria pode ser a condição de degradação de uma mulher, a função de um psicanalista fora brilhantemente defendida e sustentada por Forbes ao promover, de maneira precisa, o caminho inverso; comparando o porte da paciente, não sem razão, ao de uma rainha retifica a letra de Sinatra. De fato, ‘the tramp is a lady’.

João Marcelo Portela