/A epidemia das marchas

Jorge Forbes

 

 Não se fazem mais passeatas como antigamente. Quando todo mundo pensava que passeata era coisa do passado, quando a orgulhosa geração 68 bradava a seus filhos que eles são uns ineptos, uns alienados, uns despreocupados com os destinos do mundo e da nação, olha que somos convidados a um cardápio variado de passeatas para todos os gostos e tribos.

Em São Paulo, o local de encontro é sempre o mesmo, a mais paulista das avenidas, a Avenida Paulista. O dia também se repete: os domingos. A história recente começou no dia 21 de maio, com a primeira marcha da maconha. Juntou duas mil pessoas, ganhou muita repercussão na imprensa, especialmente pela ação inibitória e controversa dos policiais. Essa ação provocou a marcha do final de semana seguinte, dia 28, agora pela liberdade de manifestação, ou seja, uma marcha prefácio, que deveria ser anterior a todas as outras. O público aumentou, foram anunciadas cinco mil presenças. Mais uma semana, mais uma marcha: no dia 4 de junho, foi a vez da manifestação pela igualdade dos direitos sexuais das mulheres. Mulheres devem ser livres, como os homens, para se vestir e se relacionar. Essa teve menos público, dizem que por volta de dois mil, tal como a primeira. Finalmente, nesse domingo 19 de junho – publicaram que duas mil e quinhentas pessoas voltaram a se manifestar – dessa vez em harmonia policial – favoráveis à maconha, afirmando que o governo, leia-se o Supremo Tribunal Federal, liberou a erva, leia-se liberou a manifestação de se opinar a favor ou contra. E não foi só em São Paulo não, em mais de quarenta cidades, nesse mesmo dia, teve muita gente marchando.

Por que tanta marcha de repente? Parece óbvio: as pessoas querem estar juntas. Por mais que o motivo importe, sua variedade e flexibilidade acabam por ressaltar mais a marcha em si, que a bandeira do dia. Vejamos essa notícia veiculada na Rede Brasil Atual (http://migre.me/55m8I), no domingo, 19 de junho: “Ao todo, mais de 40 cidades tiveram suas marchas. Os manifestantes, de forma geral, pediram liberdade de expressão, o fim do preconceito e da discriminação de raça, gênero e orientação sexual, além de melhores políticas de transporte público”. O que “melhores políticas de transporte público” está fazendo aí, ao lado das lutas contra a discriminação? Não discutamos o que é mais relevante, o curioso é a mistura de reivindicações. Convenhamos que não se fazem mais marchas como antigamente, com uma palavra de ordem – e só uma – que era repetida à exaustão, enquanto se andava para um determinado local: um prédio do governo, ou uma representação de país estrangeiro.

Fato exemplar e divertido se deu na marcha pelos direitos femininos. Um grupo de jovens resolveu se valer dessa marcha para defender nela uma outra causa, a defesa de John May, um extra terrestre que se humanizou e lidera um movimento de resistência à invasão da Terra por ETs. Essa história se dá no seriado de sucesso “V”, inicial de “Visitors”. Os rapazes foram lá e – como se faz na música eletrônica, que sobre uma base de uma música você constrói outra – sobre a base da passeata eles criaram um novo motivo e produziram um filme curioso, no qual a luta pelos direitos das mulheres é transformada em luta contra os ETs, e com a concordância dos policiais. Vejam em: http://vimeo.com/25248554. As militantes do feminino passam a defensoras de “John May Lives”, como diz o cartaz que empunham.

-“O que é isso companheira?” diria o rabugento 68.

Quanto ao porque as pessoas da era digital querem tanto estar juntas, contrariando o senso comum, remeto a meu artigo “Preciso de Você” (http://migre.me/55mv4), aqui, nesse mesmo lugar.