/Entrevista de Jorge Forbes sobre a morte da menina Isabella para o Jornal O ESTADO DE S. PAULO

por Gustavo Miranda, estadao.com.br

São Paulo, 4 de abril de 2008.

Por romper contrato social, crime choca

Médico diz que pessoas questionam se seriam capazes de matar

Crimes como o assassinato de Isabella Nardoni, de 5 anos, que morreu depois de ser arremessada da janela de um prédio na zona norte de São Paulo, chocam a sociedade porque fogem de um contrato social estabelecido. Essa é a opinião do psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes, que dirige a Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo.

“Esses tipos de crime, como a morte do João Hélio, no Rio, e a morte do casal Richthofen, em São Paulo, abalam porque afrontam o pacto de existência da sociedade. Eles ferem o acordo das relações fundamentais entre as pessoas. São diferentes de crimes que têm uma causa aparente. As pessoas começam a perguntar se elas também seriam capazes de cometer um crime como esse e é isso que cria comoção”, explica.

“O caso da Suzane, por exemplo, é emblemático. Quando ela participou da morte dos pais, ela era uma estudante de Direito de uma universidade católica, como muitas outras. Ninguém era capaz de imaginar que aquela garota frágil fosse capaz de cometer um absurdo.” Para o psiquiatra, esse tipo de crime atinge o imaginário da população. “A relação familiar, por exemplo, é um dos pactos mais difíceis de quebrar. Antigamente, ninguém assaltava um velhinho de bengala. A família ainda é um lugar de amor e afeto acima de qualquer suspeita e uma demonstração contrária a isso choca a sociedade e faz com que se crie uma paranóia muito grande”, diz o médico.