/De Miguel Calmon: tréplica sobre “A nossa política para a psicanálise e a da IPA”

Cara Sandra Grostein, Colegas,

Ao contrário da AMP, a IPA abriga em seu corpo a totalidade das teorias e práticas que compõe o campo psicanalitico. Não nos compomos apenas de lacanianos de vários matizes. Somos freudianos, kleinianos, winnicottianos, bionianos, ferenczianos, kohutianos, lacanianos (para citar os principais autores em psicanálise) de vários matizes. Além disso, falamos não somente o francês e o espanhol, mas também o inglês e o alemão. Nossos congressos internacionais se fazem preferencialmente em inglês e isso também quer dizer alguma coisa (podemos conversar sobre isso, caso seja de seu interesse).

Assim esta discussão da qual nos ocupamos não se faz somente entre a IPA e a cultura ou as outras sociedades de psicanálise. Ela se dá no interior da IPA, tendo que tomar em consideração o inglês, o francês, o espanhol e o alemão. Isso implica problemas e diferenças importantes e aí reside o maior vigor e maior dificuldade da discussão. Temos colegas para todos os gostos, se voce me permite falar assim, e todos psicanalistas. Pura ilusão acreditar que qualquer uma das propostas levantadas e discutidas por Eric Laurent tenham consenso entre os colegas da IPA. Os grupos de poder se alternam na direção da IPA assim como suas políticas.

A regulamentação pela via universitária, o atrelamento ao DSM ou a aliança com as terapias cognitivistas estão longe de qualquer unanimidade entre os seus membros.

Daí expressar minha esperança que minha sociedade se mantenha alinhada às conclusões de Eric Laurent. Porque eu também não expresso sequer qualquer consenso entre meus pares. Tenho colegas que discordam frontalmente de mim. Por exemplo, o que fazer dos “neuropsicanalistas”, dos que desprezam a formação em psicologia de alguns psicanalistas, dos que se recusam à universidade? Expulsá-los de nossas sociedades por não estarem fazendo psicanálise?

A este respeito gostaria de destacar os esforços dos colegas Pr Roland Gori, Professeur de psychopathologie à l’université d ‘Aix-Marseille, Pr C. Hoffmann, Professeur de psychopathologie à l’université de Poitiers, e Pr Alain Vanier, Professeur de psychopathologie à l’université de Paris 7, psychiatre, que no texto Les TCC ne sont pas des psychothérapies, entram no debate provocado pelo Livro Negro da Psicanálise para ajudar a discernir a delimitação dos campos das terapias em questão.

O que não podemos é nos silenciar diante do que nos é proposto pensar, como se não devêssemos “perder tempo” com discussões que não nos dizem respeito.

Que cada um de nós tenha sua posição, é mais do que desejado. Mas temo que a IPA não consiga se expressar com a mesma unicidade que a AMP o faz.

Mas, talvez toda esta discussão nos leve a refletir que as dissidências entre as sociedades e escolas de psicanálise estejam ficando, cada vez mais, menos importantes, na medida da necessidade de nos organizar para poder responder de forma contundente ao que nos têm sido solicitado pela cultura.

Com o abraço do Miguel Calmon