por Márlio Nunes
No último final de semana aconteceu, em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul, o primeiro encontro da futura sociedade brasileira de cérebro, comportamento e emoções. Esse evento reuniu alguns dos mais importantes pesquisadores brasileiros das clínicas psiquiátricas e neurológicas, bem como pesquisadoes de área básica, com destaque para Ivan Izquierdo da PUC-RS e profissionais de áreas diversas como físicos, pedagogos, escritores e mesmo veterinários. Foi um encontro inovador ao apresentar uma série de diferenças em relação a outros eventos na área psi. Primeiro seus organizadores chegaram a conclusão que para falar de cérebro e comportamento era necessário conversar com outras áreas além das especializadas no tema como a psiquiatria e a neurologia. Estas seriam insuficientes ou teriam vícios que impediriam caminhar com a discussão. Também concluíram que cérebro e comportamento não andam bem se não fosse incluída uma abordagem sobre as emoções, por mais difícil que isto pudesse ser.
Para tornar as apresentações interessantes para a platéia, visto o desinteresse cada vez maior nos últimos eventos, era necessário mudar o formato dessas. Não se pode ter mais aulas magistrais, onde o palestrante vai levar para o público não esclarecido, seu conhecimento advindo das mais respeitadas fontes científicas. A internet tornou isto obsoleto, qualquer um pode fazer sua pesquisa. No novo formato o palestrante teve que discutir com a platéia e colegas seu conhecimento, e para isto era necessário colocar sua opinião sobre ele e não mais apresentar uma postura de isenção dizendo que aquilo não era seu, mas fruto de pesquisas científicas. O resultado da mudança foi grande. Expos a dificuldade de conclusões ou visões definitivas nesse campo. Em uma discussão sobre a consciência no qual debateram com a platéia um geneticista que se auto nomeava, materialista e darwinista, um pesquisador em neuroimagem e o maior pesquisador brasileiro na área da cognição, levantou-se a questão da insuficiência dos métodos das ciências naturais para se estudar esse assunto e da necessidade de se incluir o que foi chamado de subjetividade ou experiências não generalizáveis. Apesar de saírem com mais dúvidas que respostas desse encontro, os participantes estavam mais animados, apresentavam uma sensação de serem incluídos no debate.
5 de abril de 2005