Jorge Forbes
É uma pergunta frequente ao
psicanalista: – Como posso ser feliz?
A ideia é que a felicidade é um
bem que, se cumprirmos uma série de regras, deveremos em decorrência merecê-la.
Felizes seriam os mais aplicados, a eles o reino da felicidade. Assim se passa
nas férias, por exemplo. Busca-se com muita antecedência a montagem de um
cenário perfeito, daqueles de anúncio de televisão. Seja uma casa direto na
areia de uma praia maravilhosa, seja o seu avesso complementar, uma casa no
alto da montanha, à beira de um lago, com uma cachoeira nos fundos do jardim.
Daí, só escolher a melhor companhia, boa comida e bebida, uma cama macia em um
quarto amplo e silencioso e … bingo: – Sou feliz!
Qual o que, para a decepção da
maioria, a felicidade não obedece a regras padronizadas. No lago de Como, na
Itália, ocorreu algo interessante e ilustrativo. É um desses lugares
paradisíacos, como o descrito acima. Pois bem, a associação dos locadores dos
chalés da beira do lago baixou uma norma que qualquer locação de uma semana
deveria ser integralmente paga na hora da reserva. Isso porque eles começaram a
verificar que grande parte dos casais suportava ficar quarenta e oito horas, no
máximo setenta e duas, naquele sonho terrestre. Depois, era briga na certa e
saíam cada um para um lado.
Nada a estranhar, humano,
demasiadamente humano. Sempre alguma coisa falha nas previsões da felicidade e
isso por uma razão de estrutura: como não podemos colocar totalmente em
palavras o nosso desejo, daí a sensação da falha, da falta de alguma coisa. E
quando objetivamente não falta nada, quando tudo está perfeito, do barulho das
ondas do mar, à temperatura da água da cachoeira, aí, então, quem vai pagar o
pato dessa sensação de algo a mais ausente é o pobre do parceiro; simples
assim.
Vem então a queixa: – Ela não me
entende, diz ele, – Ele não me sente, diz ela. E toca a fazer teorias de salão
para explicar o eterno desencontro. Um afirma que o que está ocorrendo é que os
homens estão apavorados com a liberdade feminina, outro que as mulheres são
muito difíceis, eternas insatisfeitas etc. As explicações variam conforme a
época, mas o fenômeno é sempre o mesmo: alguma coisa acontece nos corações
muita além de qualquer razão. E não venham dizer que agora o sexo está melhor
que antes, pois na base do cada vez melhor, se estivermos melhorando desde os
gregos, já pensou, vamos ter uma explosão orgástica.
Não, nada disso, nada de receita
de felicidade. Ao contrário do bom senso – que sempre pensa mal – a felicidade
não é bem que se mereça. Como diria o poetinha, ela vem da arte do encontro, do
acaso, da surpresa, a tal ponto que quando estamos de fato felizes entramos em
crise de identidade, se perguntando quem é esse cara, esse cara sou eu? Para
ser feliz uma só dica: aguentar nem que seja por um instante o amor que não se compreende, que explode qualquer cenário, que nos leva a habitar o
mais forte que eu.
E boas férias!
(artigo publicado na revista IstoÉ Gente – janeiro 2013)