Jorge Forbes
Artigo publicado na revista WELCOME Congonhas, dezembro de 2007 – ano 1 – n. 9.
Nostalgia é o fermento dessa festa, como o futuro o é do Réveillon.
E então é Natal A árvore enfeitada, a rua apressada, o trânsito congestionado, as luzes, As listas de compras, dos grandes e dos pequenos, a Vinte e Cinco de Março, o endereço tropical do Papai Noel, A disputa dos jantares e a disputa por um jantar. A pergunta que se repete: – “Você vai passar aonde?; não quer vir na minha casa? Venha depois, traga quem você quiser”. O desespero dos perus e dos pessegueiros. Os pais lembrando aos filhos que o importante é o espírito de concórdia do renascimento do amor no presente; os filhos mais interessados na matéria do presente. O prato quentinho para o vigia da rua. A gratificação surpresa para o bom funcionário.
E então é Natal. O abraço doído no ex-amigo, a lembrança querida de tantos outros, em outros natais. A surpresa de alguém novo à mesa. A aula de como funciona o brinquedo, o computador, como antes se dava aula de como andar na bicicleta, ou na perna de pau. Nostalgia é o fermento de todo Natal, como o futuro o é do Réveillon.
E então é Natal. A família reunida, em encontro de recadastramento: “- Você mudou de emprego?” “- Ainda mora naquele bairro?” “- Nossa, quatro filhos, e um padre!” “- Não, o bolo de Natal de minha mãe não era exatamente assim, mas o seu está muito bom, não importa”. “- Mudou de colégio? Por quê? Ele parecia tão bem lá… É, mas é duro mesmo, eu te compreendo”. “- Casou de novo? Ai”.
E então é Natal. Em cada embrulho uma esperança de que a pessoa mais próxima descubra o número de sua camisa, de seu vestido, de seu sapato, enfim, do seu corpo. E nem sempre ela descobre. Tem aquele da suma gentileza que presenteava sua mãe todo ano com um vestido que ele mandava antes trocar a numeração pelo eterno 42, para ela se achar jovem, magra e… se achar. Tem também o presente repetido, sempre velho pão amanhecido duro a engolir. Tem. Tem muita ilusão desfeita, a partir de meia-noite, que nem a melhor reza evita a briga. O prudente se despede logo depois da benção do galo.
E então é Natal. É música repetida, muitas em inglês, de Bing Crosby a John Lennon. É a permissão de ser criança, de se deslumbrar, de se encontrar, na certeza que de novo só no próximo Natal. É tanta coisa esse Natal! É um sentimento indefinido de trégua em redor a uma só estrela. É momento de disfarce do rico que se faz de pobre, do pobre que se faz de rico, em metáfora imperfeita de um Deus na manjedoura, presenteado por pobres reis.
E então é Natal. É pompa e circunstância, mais circunstância que pompa. É convívio de alegria e dor. É retorno que sempre escapa, é berço de sonho.
E então, porque é Natal, feliz, um feliz Natal.