/Globalização: a era das mulheres

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Psicanalista Jorge Forbes retorna ao ‘Café Filosófico’ e fala sobre a influência feminina no mundo contemporâneo

por Karla Beraldo

A nova era em que vivemos, caracterizada pela perda de padrões, por múltiplas possibilidades e pelo privilégio das relações horizontais sobre as verticais, possibilita mais o modo feminino de ser do que o masculino. É assim que, de prontidão, o psicanalista Jorge Forbes responde positivamente à questão “A Globalização é Feminina?”, tema da palestra que ele ministra hoje, às 19h, no Café Filosófico da CPFL Cultura em Bauru. O encontro é o segundo pertencente ao módulo “O Que Pode uma Mulher, no Século 21?”, do qual Forbes é também curador.

A globalização é tida como o momento social que corresponde mais à maneira da satisfação feminina do que masculina. “A forma em que a sociedade organizava-se no mundo industrial seguia padrões bem definidos, atributo tipicamente masculino. Ao contrário disso, a globalização não tende a nenhum padrão. O que temos hoje é a multiplicidade de possibilidades, característica, desta vez, da satisfação feminina”, explica Forbes, apesar do difícil acesso, em entrevista concedida ao JC Cultura por telefone.

No entanto, segundo o psicanalista, isso não significa, necessariamente, que os homens estão no inferno e as mulheres, no paraíso. “O mar da globalização está muito mais para o peixe mulher do que para o peixe homem e, diante disso, as mulheres deviam estar nadando de braçadas, mas não estão”, alerta.

Para Forbes, depois de tantas conquistas, vem uma tarefa ainda mais difícil para as mulheres: usufruir delas. “A maior diferença entre a mulher do século anterior e deste é que a primeira reivindicava seu lugar, enquanto a atual tem que conquistar esse lugar”, diz.

Ao contrário do que aconteceu no século 20, o psicanalista explica que a mulher contemporânea perdeu a possibilidade de se queixar e se hoje não é feliz, é porque não está sendo capaz de se responsabilizar pela liberdade conquistada. “A mulher anterior dizia que não era feliz porque faltava a ela uma série de possibilidades, que a sociedade não li dava, era uma mulher que reclamava. Hoje, depois das conquistas, está muito mais na mão de cada uma se responsabilizar pelo exercício da sua felicidade, o que é uma tarefa bem mais difícil. É muito mais fácil ficar na posição de quem reclama; dizer ‘se não fosse você eu seria muito feliz’”, defende Forbes.

Em síntese, este seria o momento das mulheres modernas mostrarem “a que vieram”. “As mulheres se mostraram muito competentes nas campanhas pelas conquistas femininas. Agora, elas não estão mais no palanque, estão no governo. E a pergunta é: como estão usufruindo as conquistas obtidas na época anterior?”, questiona Forbes.

Módulo

É, justamente, a questão acima uma das norteadoras do módulo “O que pode uma mulher, no século 21?”. Segundo Jorge Forbes, curador deste ciclo de debates, o objetivo dos encontros é examinar no que as mulheres estão bem e no que estão enfrentando dificuldades. “Entre a luta de uma conquista e usufruir dela vai uma longa distância. As mulheres souberam se organizar no século 20 e venceram fortes batalhas. Diante disso, poderíamos pensar que elas estariam muito bem, mas vemos vários problemas”, analisa o psicanalista.

Na semana passada, acompanhada de Forbes, Mônica Waldvogel examinou o quão problemático é (ou não) a chegada das mulheres a cargos importantes no trabalho. Talvez motivada pelo tema da palestra que ministrou “O Medo das Mulheres”, a jornalista, sem receios, revelou um dos seus: o pavor de falar em público.

No entanto, apesar do nervosismo diante de sua primeira palestra, Mônica arrancou boas gargalhadas da platéia (composta também por homens) e concluiu que o grande medo das mulheres é perder sua “feminilidade”.

Baseada em diversas pesquisas e a partir de observações pessoais, a jornalista acredita que uma das principais razões das mulheres não permanecerem nos altos postos de grandes empresas é a maneira como elas são obrigadas (ou acreditam ser) a agir como homem para serem aceitas.

“Para muitas mulheres, ir e vencer, alcançar o que sempre desejou no trabalho, significa abrir mão da sua própria identidade. E as que embarcaram nesse caminho, vêm desistindo”, explica Mônica. “Não é que ela retorna para casa. Simplesmente, as mulheres não acham que aquilo seja mundo para elas e diante disso, procuram outras áreas, em outros ambientes que conseguem se manter”, conclui.

No encontro da próxima sexta-feira, dia 20 de junho, a geneticista Mayana Zatz pretende discutir os instrumentos oferecidos pela genética para a mulher de hoje, como o modo do nascimento dos filhos, o prolongamento da vida, as terapias gênicas, entre outros.

O módulo será encerrado no dia 27 de junho com a palestra “Sintomas do Feminino: anorexia, bulimia, angústia, depressão”, do psicanalista Ariel Bogochvol. “Por que as mulheres, no momento que tem a chance de reinar no espaço tão almejado por elas, estão adoecendo?”, adianta Forbes, sobre a palestra.

• Serviço

“Café Filosófico” com Jorge Forbes, hoje às 19h no auditório da CPFL Paulista de Bauru (rua Wenceslau Braz, 8-8, Vila Pacífico), aberto a partir das 18h. A entrada é gratuita e por ordem de chegada. Mais informações no site www.cpflcultura.com.br ou pelo telefone (19) 3756-8000.

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Projeto Café Filosófico

O “Café Filosófico”, projeto desenvolvido pelo programa CPFL Cultura, tem por proposta discutir o comportamento do indivíduo frente às transformações do mundo contemporâneo. Segundo Jorge Forbes, que além de curador do módulo atual, é consultor do projeto, qualquer módulo parte do princípio que houve uma mudança muito grande de era, que impôs novos tipos de comportamento. “Perdemos a nossa bula e bússola frente à globalização, na qual não se faz mais nada hoje em dia como se fazia antigamente”, avalia.

Comparando o funcionamento do ser humano ao de um automóvel, Forbes explica que o homem necessita ser reemplacado na globalização. “A licença de circulação que tínhamos no mundo industrial esgotou, não funciona mais. Todos nós estamos com uma licença provisória de circulação”, analisa. “De certa forma, é isso que o Café Filosófico pretende: ajudar o homem a se recadastrar em um mundo novo, para que ele não fique enfrentando novas questões com velhos remédios”, completa.

Os encontros em Bauru, que começaram no mês de abril e seguem até novembro, são realizados sempre às sextas, às 19h, e a programação é gratuita e por ordem de chegada.