Noutro momento: “Não há psicanálise sem psicanalistas, o que faz da formação de analistas um problema crucial para a psicanálise. Seu aforismo (de Lacan) “o analista só se autoriza de si mesmo” foi mal compreendido. Pensou-se que bastava se autonomear analista, sem qualquer outro critério além da vontade.
O engano é simples: confundiu-se ‘si mesmo’ com ‘eu mesmo’. O ‘si mesmo’ é o ponto de intimidade estranha, de ‘extimidade’, que um analisante se confronta, em sua análise pessoal, muito diferente no narcísico ‘eu mesmo’. A formação lacaniana é complexa e bem mais exigente que a universitária, uma vez que não é padronizada, o que impede o cumprimento de fórmulas prontas, o ‘cumprimento de tarefas’ “.
Na revista, escreve também Marcio Peter de Souza Leite, o artigo “A psicose como paradigma”, em que diz: “a psicanálise restituiu ao psicótico a função de arauto da condição humana” (…) “a loucura revista pela psicanálise, e particularmente por Lacan, operou um efeito de reodenamento ético, pois a loucura foi, e sempre será, pela afirmativa ou pela negativa, um questionamento global de tudo o que é humano e talvez seja a indagação mais profunda sobre a liberdade e o sentido da existência”.