/Madrasta x Mãe

Publicamos as respostas completas dadas por Jorge Forbes para a matéria da Revista da Folha publicada no domingo 11 de maio de 2008.

Maeli Prado

Repórter, Revista da Folha – Folha de S. Paulo

ENTREVISTA DE JORGE FORBES PARA A REVISTA DA FOLHA, DO DOMINGO 11.5.08

– Por que a relação entre madrastas e ex-mulheres é tão complicada? É natural o ressentimento da madrasta em relação a um filho de um casamento anterior?

São “sócias” em tempos diferentes, que, quando não bem posicionadas, entram em disputa para saber qual a melhor frente ao mesmo objeto. Para uma madrasta que faz do seu marido a sua segurança psíquica e econômica, é muito frequente o ressentimento dessa mulher em relação a um filho de um casamento anterior. Um homem pode dormir com várias mulheres, mas não pode engravidar várias mulheres. São escolhas distintas e muitas madrastas sofrem por isso, mesmo se elas também conseguiram ter filhos daquele homem.

– Por que a madrasta é vista de forma tão negativa pela sociedade?

A sociedade humana não é uma sociedade natural, no sentido que os vínculos seriam garantidos pela biologia, como nos animais. Tenta-se então estabelecer alguns parâmetros de certeza, sendo que o mais frequente é a mãe; mãe seria só uma e intocável. O estatuto da madrasta mostra que nem aí, na filiação, temos uma origem garantida que nos livre da impressão de falsidade – Quem sou eu? – tão angustiante.

– Por que as ex-mulheres acabam usando a criança como uma forma de se vingar do ex-marido, impedindo as visitas, por exemplo?

Isso é clássico, lembre-mos do mais famoso e consagrado exemplo do teatro, a Medeia. Ela mata seus filhos, que teve com Jasão, ao se ver abandonada por ele. Guardadas as devidas proporções, há um quê de Medeia em uma parte das mulheres; são pessoas que entendem que o verdadeiro genitor é ela, a mulher, a mãe, enquanto o homem é um genérico de ocasião; e que o filho que ela pôs, ela pode dispor, como bem lhe aprouver.

– Qual o papel do pai nessas relações?

Um pai jamais, jamais pode se demitir de seu lugar paterno. Parece tautológico, eu explico: não é porque um pai se casou de novo com outra mulher, que ele pode abandonar seus filhos da relação anterior, ou privilegiar, por interesse de seduzir a nova companheira, os filhos da nova mulher, só os dela, ou mesmo os que forem com ele, se houver.