Acho bom para marcar diferenças.
A antipsiquiatria denuncia o poder psiquiátrico de transformar o paciente em objeto durante uma apresentação de pacientes. Sabemos que a resposta da psiquiatria a este movimento tem sido seu saber respaldado na autoridade dos estudos científicos – os antipsiquiatras são antes de tudo uns ignorantes.
A pergunta que se deveria fazer para ambos: É possível realmente se transformar o paciente em um objeto numa apresentação clínica, pode o saber psiquiátrico ter esse poder?
Pelo seu pedido de impedimento dos psiquiatras, a antipsiquiatria parece acreditar que sim.
No fundo os dois grupos têm apenas uma diferença de postura. Um defende o uso do saber psiquiátrico e o outro defende sua limitação. Nesse nhém-nhém-nhém e ti-ti-ti ambos fogem da questão fundamental que seria questionar justamente a possibilidade desse saber.
A psicanálise não cerra fileiras com eles. Segue o rumo iniciado com Freud, que via nas apresentações de pacientes de Charcot, não a demonstração de um conhecimento, mas um enigma. Um enigma que lhe exigiu uma tentativa de elaboração de um novo saber, enigma que insistiu em aparecer repetidamente em sua clínica, tendo o saber que ser reconstruído e reconstruído.
A psicanálise se usa da apresentação clínica não para decifrar, saber do paciente, mas, pelo contrário, para demonstrar essa impossibilidade. Nessa disputa entre prós e contrários à psiquiatria, ela reformula, faz possível e dá conseqüência à frase dita por um político covarde que queria não se responsabilizar por uma opinião, dizendo “Nem contra, nem a favor, mas antes o contrário.”
Márlio Nunes