Alain Mouzat
O que há de comum entre Monica Lewinsky, Rosane Collor, Valérie Trierweiler e muitas outras? São mulheres que de alguma forma romperam as aparências denunciando os compromissos sobre os quais se faz a sociedade dos homens.
Ao contrário das CPIs que parecem mais próprias para tentar cerzir o rasgo que ameaça expor o Rei nu, a mulher, graças a sua convivência com a mascarada, tem uma grande familiaridade com um tipo de verdade, e sabe apontar o obsceno atrás da cena.
Pouco importa que seus arrotos de verdade sejam instrumentados pelo Partido Republicano, a Globo, ou a oposição política ao Partido Socialista na França. Alguns já lhes atribuem motivações: interesses escusos, sede de fama… mas, ela não precisa disso: quando lhe é intolerável, ela fura o véu que de alguma forma recobre o status quo sobre o qual repousa a convenção social masculina. Sem cálculo das consequências.
A verdade, para ela, está sempre associada ao buraco: o fundo do poço do qual ela, verdade, sai, ou a boca-da-verdade na qual ninguém enfia a mão sem tremer.
Audrey Hepburn em Roman Holiday (A Princesa e o plebeu)
Qual é a ameaça?
É que a verdade é sem fundo, e que não se pode pensar em toda dizê-la.
Na sua Introdução ao Gaio saber, escreve Niezstche:
« Não acreditamos mais que a verdade permanece verdade sem seus véus; vivemos demais para acreditar nisso. Fazemos agora uma questão de decência de não querer ver tudo nu, de não assistir a tudo, de não procurar tudo ‘saber’ ». “É verdade que o Bom Deus está em toda parte? perguntava uma garotinha a sua mãe. Acho isso indecente”.
Talvez as CPIs nos dêem a meia-verdade que queremos.
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