No auditório da Faculdade de Educação da USP, na sexta e no sábado, 17 e 18 de dezembro de 2004, os participantes dos Núcleos de Pesquisa em Psicanálise e Educação da Faculdade de Educação da USP e do IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana – falaram ao professor que quer silenciar o burburinho em classe, interceptar os bilhetinhos que circulam entre as carteiras, aquietar as risadas, que quer cadernos anotados da matéria passada no quadro negro; ao conferencista que quer desligar os celulares; ao coordenador disciplinar que quer conter os atrasos, o entra e sai das salas. Falaram à bibliotecária que quer os meninos sempre calçados durante a leitura; a todos os que desejam que inexistam torpedos, jogos eletrônicos, e-mail, foto e música nos telefones celulares dos jovens; a todos os que desejam a matéria bem memorizada na véspera da prova, a prova feita sem rasuras, o orgulho do menino bem avaliado e sua vergonha da nota baixa.
Esse universo do ensino tradicional não existe mais. Mudam os laços entre pais e filhos, dos alunos entre si e com os professores. O saber – os conceitos, os sistemas, o debate de idéias, o próprio diálogo – já não exerce o fascínio e o respeito de outros tempos. Que propósito tem a instituição de ensino então? A proposta da coordenadora dos Núcleos, Leny Magalhães Mrech, é que, mesmo assim, cabe ao educador permitir o enganchamento do aluno na cultura – sem constituir para ele uma identificação pesada, de modo que ele se insira e se implique na diversidade da cultura de maneira criativa e responsável.
Cultura, portanto, que não é apenas a representação científica das coisas, teoria estática, a uniformidade e universalidade das referências do conhecimento, ou tampouco de uma ordem moral. Cultura que envolve o limite da compreensão e a necessidade da ação.
O programa envolveu os pesquisadores do Projeto Análise na coordenação das mesas e na promoção dos debates. Aproximadamente uma centena de pessoas no auditório assistiu a um repensar do professor, do coordenador pedagógico, da escola e da universidade; do ensino da criança ao curso para o executivo; da comunicação de massas; da formação do educador – que seja aberta como a do analista; da relação transferencial entre professor e aluno – não mais suportada pelo saber, mas sim pelo Real que leva à criação; da pesquisa e da apresentação de matérias como a História, a Física e a Matemática; das práticas disciplinares; da escuta.
Os dois Núcleos – NUPPEs– celebram nessa sua Primeira Jornada, “Novos Usos da Psicanálise na Educação”, um percurso de formação de educadores a partir da orientação psicanalítica. Um convite à participação de todos na continuidade dos trabalhos no próximo ano, na USP e no IPLA, um ensejo à publicação das conclusões, à difusão das propostas, pela notícia da emergência de um novo ensino.
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