“Não é mais um luxo que o outro diz o que você deve ter, vestir ou ser. Não é mais o dever-luxo. Será necessariamente um luxo customizado e íntimo. Exemplo: o relógio da Fóssil desenhado pelo Philippe Starck. Ele não é caro, custa um pouco mais que um Swatch. Mas enquanto o Swatch tem a beleza da evidência, da praticidade, o Fóssil é todo preto, discreto, com um mostrador para acender. Você corta a pulseira de borracha no tamanho de seu pulso. Então, você tem que fazer um gesto de singularização. A pessoa dá um toque pessoal na manufatura. Antes você saia da loja como eles mandavam. Depois você começou a usar casaco de pele com calça jeans, mexer no uso da roupa. E agora você deve mexer na manufatura. Além disso, poucas pessoas conhecem este relógio. Por isso mesmo. O novo luxo só algumas pessoas podem conhecer”. (Jorge Forbes)
Com destaque de primeira página – “Grifes de luxo recorrem à psicanálise para discernir novas tendências” – o jornal Valor Econômico noticia novos tempos, e percebe que a psicanálise concerne ao seu leitor, especializado. E tanto: ela concerne aos criadores de tendências mundiais, porque tem em seu cerne a criatividade, como única resposta ao desejo.
Um dos temas do Seminário 2003 de Jorge Forbes foi o luxo (o título era “Vergonha, Honra, Luxo”). Quando ele anunciou a novidade – apresentada em um estudo que convocava também a sociologia de Gilles Lipovetsky – de que, para além do caro, do exclusivo, do evidente, há um novo luxo em nossos dias, ancorado apenas na singularidade, no toque pessoal, essa conclusão já não interessava apenas à clínica analítica. Melhor, era uma orientação apreendida na clínica que reverberaria na política, no direito, na economia, no cotidiano…
A entrevista de Jorge Forbes foi publicada no jornal Valor de número 948, de 12 de fevereiro: “O mundo que não cabe no divã e o luxo que abandona a vitrine” (página D4).