Nesta sexta-feira, 19 de agosto de 2005, às 20 horas, no IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana, com a coordenação de Jorge Forbes, o filósofo, criador do conceito de hipermodernidade, Gilles Lipovetsky falou sobre a mulher da contemporaneidade, A Terceira Mulher, a mulher que conquistou o livre governo de si própria, enquanto sujeito social. Lipovetsky situa este tema, mostrando que desde o início da humanidade se constata a existência de dois princípios invariantes, universais. Primeiro, o que um sexo fazia o outro não fazia. Segundo, um sexo teria prestígio superior ao outro. As atividades típicas dos homens se beneficiavam de um reconhecimento social superior ao das mulheres. As atividades femininas eram aquelas das quais não se falava ou se falava denegrindo. A mulher era tida como um ser que encarnava o mal. A primeira mulher era perigosa, diabólica, mefistofélica.
A partir da Segunda Idade Média uma nova lógica é implantada: a sublimação e a idealização da mulher pelos homens. A quintessência da beleza. O homem se torna o servidor da mulher, da dama, mas o poder dos homens permanece. A partir do Século XVIII passa a haver o reconhecimento da mulher enquanto mãe e deusa do lar. A segunda mulher é a mulher enaltecida. Este dispositivo simbólico e imaginário não modifica praticamente nada quanto às funções de ambos os sexos e caducou.
Seguindo na história, numa grande conquista, numa lógica democrática, as mulheres passaram a ter autonomia sobre seu próprio destino. É o que Lipovetsky nomeia a terceira mulher. Homens e mulheres sofrem a mesma angústia de se responsabilizarem por suas vidas. Mas, apesar da autonomia, a mulher continua com papéis tradicionais. Assim, se um dos pais tem que faltar ao trabalho para ficar com o filho doente, geralmente isto cabe à mãe. Quanto à sedução, são os homens que continuam tomando a iniciativa. Há uma exigência de marcar a diferença. Assim, quanto mais a mulher ocupa cargo elevado, mais consome cosméticos. As roupas íntimas estão cada vez mais sexy. A terceira mulher alia o exercício da responsabilidade com a beleza. Mas em relação ao poder, que não é um fator de sedução feminina mas masculina, no âmbito da economia, as estatísticas mostram que há pouquíssimas mulheres no topo. Já na esfera política há o movimento de promoção da mulher. A hipermodernidade não é unissex, é um casamento complexo de igualdades e diferenças.
Lipovetsky empolgado e um público atento, participativo e questionador, mantiveram por mais de três horas a vivacidade desta conferência na casa arquitetada por Flávio de Carvalho. (Elza Macedo)