/Psicanálise – a clínica do Real

PSICANÁLISE

A Clínica do Real

O título desse livro pode ser entendido de duas
maneiras. Uma afirma que a psicanálise é a clínica do Real. Outra que ele aborda
a Clínica do Real, um dos nomes da segunda clínica de Jacques Lacan, a última,
aquela própria ao século XXI.  As duas
leituras são boas.

Não analisamos hoje como Freud analisava no início de
1900. A revolução do laço social provocada pela passagem do mundo moderno para
o pós-moderno obriga a todas as disciplinas que tratam do homem, por exemplo, o
direito, a pedagogia, a economia e, claro, muito evidentemente a psicanálise, a
se resituarem frente a essa revolução. Uma das características que distingue a
nova era em que vivemos, da anterior, é seu caráter de relações horizontais em
rede diferente das relações anteriores verticais e hierárquicas. Quando Sigmund
Freud conceituou o Complexo de Édipo enquanto o pilar da estruturação subjetiva,
e por conseguinte da clínica, ele o fez coerente a um mundo que se organizava
em pirâmide: o pai no topo da família, o chefe na empresa, a pátria na
sociedade civil. Esse mundo mudou radicalmente. Necessitamos de uma psicanálise
pós-edípica, por isso escrevemos esse livro.

Nosso objetivo foi trazer ao leitor, seja ele
especialista ou não, um panorama claro, ordenado, de como entendemos a prática
da psicanálise hoje. Utilizamos, na sua composição, o método mais óbvio: os
tempos de um tratamento analítico. Quatro tempos: a entrada em análise, a
condução do tratamento, as dificuldades de percurso, os finais da análise.

Primeiro, ao buscar um analista, ou a tropeçar com um
– isso acontece -, como se entra em análise? Certamente não será por um
contrato burocrático do gênero daquele que definiria pagamentos e frequência.
Nem será necessariamente a partir de um diagnóstico estrutural, próprio à
primeira clínica. Será a partir da relação do sujeito com o seu gozo que o faz
se embrulhar com o Real. Mas o que quer dizer isso?

Segundo, como o analista desse novo tempo dirige o
tratamento? De cara uma questão fundamental: uma análise é para saber mais de
si, para errar menos, ou é para levar a pessoa a descobrir que o saber é sempre
incompleto e a vida é contrato de risco? A resposta a essa pergunta implica na
forma de se conduzir uma análise: para o Simbólico ou para o Real.

Terceiro, é bom dedicarmos um tempo para falarmos das
dificuldades do caminho, nem todas previsíveis, seguramente, o que só aumenta a
nossa atenção na posição diante dos impasses, dos erros e na construção do ir
além.

Quarto, para concluir, o que é um final de análise?
Qual a finalidade e como se dá o término de um tratamento? Há um padrão, uma
norma? Poderíamos generalizar dizendo que se dá uma mudança ética paradigmática
na posição do sujeito? Destrinchemos essa questão crucial.

Esse livro é de vários autores, apresentados nessas
páginas. Todos eles pertencem à rede dos Institutos do Campo Freudiano no
Brasil, prioritariamente ao IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana, no qual,
durante todo o ano de 2012 foi realizado um curso semanal: “Enfim, a
Psicanálise no Divã”. As aulas desse curso deram origem aos capítulos desse
livro. Algumas, como as minhas, são fruto das transcrições da transmissão oral,
outras, a maioria, foram escritas imediatamente antes das aulas e nelas
debatidas. Todas tentaram a ousadia responsável de vir a público dizer como
estamos pensando e praticando a psicanálise no século XXI.

Que esse esforço coletivo encontre em você a melhor
leitura é o que almejamos.

 

Jorge Forbes