/Que líder queremos?

Jorge Forbes

  

Eleições. Só se fala disso. Vou
falar também, mas um pouquinho diferente. Não vou falar de pessoas, nem de
partidos, nem de minhas preferências. Nem vou tentar convencer ninguém (muito)
a ir por um caminho que me pareça melhor. O que eu gostaria de chamar a atenção
é que uma eleição escolhe líderes e que esses – os líderes – no tempo atual
pós-moderno, não tem nada a ver com o líder do tempo moderno, que nos é
anterior.

Pensem nas suas casas. Alguém
ainda conhece uma família que jante impreterivelmente às 19h30, que o pai se
sente de terno e cara circunspecta à cabeceira, que os filhos se distribuam na
mesma ordem, que a conversa seja pautada por importâncias comedidas da vida de
cada um? Difícil, não é? O mesmo modelo, mutatis mutandis, vale para o
professor, na escola; e também vale para o chefe, na empresa, ou na política.

Não se é líder hoje em dia com a
roupagem do passado. Não existe mais a liderança vertical, de cima para baixo,
em um eterno dar notas de aprovação, ou de reprovação. Por mais que o modelo
“gerentão” ainda possa seduzir, ele é velho, é tosco. Na pós-modernidade o
líder é o apaixonado que inspira, mais que controla; que entusiasma, mais que
disciplina.

Não se é líder hoje em dia só por
se saber ler gráficos. Números são importantes, mas não emocionam. Havia uma
época em que a razão deveria ser asséptica, sem cheiro de humanidade. A época
onde as pessoas se escondiam atrás de uma aparente objetividade
pseudocientífica. Ficava-se repetindo: -“Os números mostram que…”, como se os
números falassem por si, quando nem mesmo as rosas o fazem, Cartola dixit. Mais
atual é a razão sensível, mistura de lógica com emoção, onde esta, a emoção,
completa responsavelmente os furos da outra, a lógica.

Não se é líder hoje em dia se
apresentando como diretor de costumes, de certos e de errados, se fazendo de
moralista de plantão, religioso ou pagão. Há que se diferenciar moral de ética.
Moral, como o estabelecimento de um bom para todos; ética como a
responsabilidade frente ao singular de cada um. O mundo pós-moderno é das
singularidades, das diferenças que pedem para ser articuladas e não tolhidas.

Não se é líder hoje em dia quem
conclama as certezas e evita as ambiguidades. Quem prefere comunicar, em vez de
envolver. Quem precisa ser importante, quando a questão é ter estilo. Quem
recua na prudência, ao invés de apostar na inovação. Quem patrocina – de longe
– a cultura, quando deveria ser um editor de cultura.

Não se é líder hoje em dia
vivendo na saudade das comunicações uni direcionadas, quando o fundamental é o
compartilhamento em rede.

Essa lista não é exaustiva, ela
continua. Esbocei diferenças do líder da pós-modernidade em comparação ao da
modernidade. Espero que esses aspectos ajudem a compreender o momento atual e,
em decorrência, escolhermos o líder que queremos.

 

(artigo publicado na revista IstoÉ GENTE – outubro de 2014)