/Segunda Conversação Preparatória: “Você quer mesmo ser avaliado?”

“Você quer mesmo ser avaliado?”

Segunda conversação preparatória ao Fórum “A Psicanálise Versus A Sociedade de Controle”, a ser realizado no dia 10 de junho de 2006, no MuBE -SP.

Sede do Instituto da Psicanálise Lacaniana.

Sinopse da conversação do dia 10 de maio de 2006

“Você quer mesmo ser avaliado?”. Na segunda conversação preparatória ao Fórum “A Psicanálise Versus A Sociedade de Controle”, os participantes enveredaram por temas essenciais ao entendimento da atualidade: o Estado de exceção, o biopoder, a avaliação nas empresas e nas escolas, os limites da lei e a falta de limites dos contratos e do controle.

Jorge Forbes comentou, inicialmente, a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle; o que as diferem, como evoluem.
Num diálogo com Gilles Deleuze, mais precisamente, seus textos Controle e devir e Post-scriptum sobre a sociedade de controle, que podem ser encontrados em seu livro Conversações, Forbes caracterizou as forças que estão substituindo a sociedade disciplinar. Estaremos diante de um novo monstro?
Escola, hospital, fábrica, prisões… estas instituições estão condenadas, num prazo mais ou menos longo, diz Deleuze. Tornaram-se obsoletas no mundo atual, perderam sua função de confinamento, que era uma característica da sociedade disciplinar, conforme o estudo do filósofo Michel Foucault. A plasticidade da sociedade atual disfarça um controle menos evidente, mas não menos danoso que na anterior.

Mercado do Mental. Na sequência, Leny Mrech falou sobre o Mercado do mental. Evidenciou que a transformação do mental numa mercadoria a ser comercializada está associada à manutenção da divisão entre sujeito e mente, que nos remete a essa outra, cartesiana, entre corpo e pensamento. Através dessa divisão, o mental é visto como algo separado do sujeito, e o que se valoriza é a doença. A doença é, dessa forma, o objeto libidinal do interesse científico, mercadológico e midiático. Tal operação tem por conseqüência um escamoteamento da implicação e da responsabilidade do sujeito por seu comportamento.
Leny falou ainda sobre as formas de controle contínuo na escola: avaliação contínua, formação permanente, descaso com a pesquisa. Esse último ponto deu ensejo a uma discussão sobre o papel das empresas e fundações na universidade, para a qual colaborou Mayana Zatz.

Contrato, avaliação e controle. Avaliação na escola, avaliação e contrato no direito. Dorethee Rüdiger partiu da problemática expressa no livro Você quer mesmo ser avaliado? e apresentou o modo pelo qual a forma contrato, que antes era reservada ao mundo das trocas, vem se generalizando, abarcando, inclusive, as instâncias do legislativo e do judiciário. Relacionou esse fenônemo aos limites da soberania dos Estados nacionais diante da globalização. E ainda… retomou a discussão de Manuel Castells sobre a Sociedade em Rede para discutir as novas formas de relação das empresas e instituições.
Dorethee também relatou o caso de um empresário que perdeu nada menos que 50 mil calças porque suas etiquetas não estavam de acordo ao padrão de avaliação. Apresentou, na seqüência, o que chamou de rede de solidariedade entre concorrentes, um tipo de associação entre empresários contra o regime dos contratos. Além disso, valorizou o retorno do artesanato como um exemplo da criatividade contra a padronização.

Palavra sem corpo, corpo sem palavra. Entrementes, para enriquecer a discussão, Jorge Forbes leu a carta Não à tatuagem biopolítica, escrita pelo filósofo italiano Giorgio Agamben. Trata-se de um manifesto contra os procedimentos de registro e fichamento impostos pelo governo dos EUA aos cidadãos que quiserem entrar naquele país. Agamben, que dava cursos na Universidade de Nova York, descreveu esse fenômeno com uma manipulação do “elemento mais privado e incomunicável da subjetividade: a vida biológica dos corpos.” E expressou seu receio de que práticas como essa, que antes eram vistas como medidas excepcionais, impostas a criminosos, passem a ser consideradas normais. Sua carta foi publicada pela Folha de São Paulo do dia 18 de janeiro de 2004.

O neuromarketing e a “gana de concluir”. Alain Mouzat discutiu o modo pelo qual empresas e instituições se utilizam de pesquisas baseadas em imagens cerebrais a fim de, por exemplo, tentar definir o comportamento do consumidor para melhor vender seus produtos. Há até mesmo quem acredite que a mentira possa ser localizada no cérebro, como é o caso das Forças Armadas americanas.
Além disso, Mouzat comentou pesquisas recentes sobre a origem do autismo, a tentativa de encontrar suas causas biológicas, o tratamento com TCCs, etc.

A conversação terminou com perguntas, vontade de saber, e um encaminhamento para o próximo encontro, que você lê na nota a seguir.


Nota: No dia 30 de maio, terça-feira, o filósofo Sébastien Charles, da Universidade de Quebec, Canadá, fará, no IPLA, uma conferência sobre A felicidade nas sociedades hipermodernas, articulada com o terceiro segmento do Fórum do dia 10 de junho.

Rodrigo Abrantes