/Um novo feminismo?

Jorge Forbes

Existe um novo feminismo?

Não necessariamente precisamos falar de um novo feminismo por constatarmos que aquela moça que se matou de estudar, fez uma boa faculdade, conseguiu um mestrado em administração de negócios em uma grande universidade americana – um MBA – voltou para o Brasil empregada em uma financeira ganhando os tubos, que essa moça largou tudo para se dedicar aos filhos, ser fotógrafa ou vender joias. Arrependimento, recuo, covardia, ou simplesmente vontade de cuidar do filho, tirar fotografia ou de vender joias?

O mais provável é que isso seja só uma expressão da vontade de alguém que já se cansou de ser cobrada a provar que é tão boa quanto um homem. De alguém que finalmente entendeu que estar no nível do homem tem pouco a ver com ser parecida com ele. Nada mais ridículo que as executivas de terninho preto, mala 007, andar rígido, cara sisuda de grandes preocupações, que infestam os aviões das pontes aéreas. Que desserviço fazem ao feminismo aquelas que se fazem homens para provar que “tão podendo”. Estão podendo o quê, serem iguais aos homens? Mas que besteira! Que atitude mais machista – sem perceber – fazer tudo para serem iguais aos homens, o que leva suas bússolas a os enaltecerem, por suposto. A mulher da pós-modernidade não precisa falar grosso e ser pouco atraente, para ser “chefa”. A pós-modernidade serve de bandeja ao feminino. É a era das diferenças, das singularidades, da diversidade, da criatividade, da falta de hierarquias, da razão afetiva, todas essas qualidades harmônicas ao feminino; qualidades de fácil convivência para as mulheres, difíceis para os homens.

A tendência não é mais das carreiras lineares: começou como office-boy, chegou a diretor. Não. Nossa época é de caminhos únicos e sinuosos. A mesma moça que largou a financeira para ter e cuidar dos filhos e vender joias, amanhã pode inaugurar uma startup de muito sucesso, parida no flanar de suas fotografias itinerantes. E mais adiante, tendo acumulado algum dinheiro, lá vai ela para uma viagem de seis meses a algum destino incomum, ou para achar o inusitado em destinos comuns. Nosso momento aponta mais para experiências de vida que para acumulação de objetos, cargos ou títulos. E as mulheres de vanguarda, não necessariamente sabendo disso, agem assim.

É o velho olhar louco para brecar a velocidade da mudança que passamos, saudoso de uma suposta vida boa dos velhos modelos – muito discutível, aliás, pois é preciso ter falha de memória – é o velho e reacionário olhar que pensa que as mulheres estão recuando de suas conquistas. Nem se quisessem poderiam recuar, pois o mundo mudou e as mudanças são inexoráveis. Vieram para ficar e temos que legitimar novas formas de viver esse tempo.

MBA rima sim com cuidar de filhos, que rima com ser fotógrafa e com ser líder empresarial. Que não se peça a esta mulher coerência progressiva e escalonada de suas opções como se houvesse em algum lugar uma tabela de primeiro a, depois b, em terceiro c, imaginando que a vida seja um alfabeto progressivo. Pois bem, estamos mais perto das sopas de letrinhas que possibilitam a variação das palavras na composição do presente, dependendo do movimento da colher que mexe o caldo. Ah, então é essa a nova cozinha das mulheres atuais? Ironizaria o macho alquebrado por essa revolução feminina. Sim, diríamos, uma cozinha que homem nenhum escapará de também ter que por a sua colher. E já estão atrasados.

 

(artigo publicado originalmente na revista Gente IstoÉ, maio 2013)