Eugênio Bucci era o convidado; Jorge Forbes o debatedor.
Domingueira no IPLA – 20/09/09
O Entretenimento, o Gozo Imaginário e a Imprensa no Meio Disso Tudo.
O encontro prometia! Auditório lotado, as pessoas ansiosas, curiosas, muitas provavelmente já aquecidas e mobilizadas pelas incríveis aulas do curso no sábado (J. Lacan – A primeira clínica).
Eugênio trouxe uma proposta ambiciosa, tema denso, com muitas nuanças; além de tudo, corajoso ao tratar de questões centrais da psicanálise num ambiente de experts. Atitude daqueles movidos por inquietação intelectual. No estilo que é sua marca (será uma questão de mais-valia? mais-de-gozar? bem seja o que for, deixou uma excelente imagem…) tratou de questões atuais e necessárias, com propriedade e bom humor.
Jorge Forbes foi um interlocutor inquieto, identificando pontos chave, provocando, estimulando. Ele também, se divertindo.
Uma bela dança, que arrisco aqui relatar alguns fragmentos.
Eugênio partiu da Comunicação, da insuficiência de suas teorias e a necessidade de “beber de outras áreas” como a lingüística, a sociologia, a psicanálise.
E vai contando dos seus interesses, questionamentos; fala de uma comunicação inserida em uma sociedade na qual a economia contemporânea é “especializada em produzir imagens”; é isso o que mais se consome.
“Hoje a ‘coisa’ corpórea é secundária, um suporte para carregar o signo.”
“É como imagem que a mercadoria realiza seu valor.”
“Existe o valor do olhar.”
Para falar de entretenimento, há que se pensar o imaginário. Destaca a imagem – parte do imaginário – e lembra: “quem decodifica a imagem perde o melhor, seu impacto extralinguístico.”
A mercadoria deixa de ser significado, passando a significante. Configura-se a promessa de uma suposta completude, que se delineia no registro do imaginário; promessa de acesso a algo que falta, de satisfação do desejo.
Imagem espetacularizada com a qual “também a ciência opera.”
Uma questão instigante: O inconsciente dirige a indústria do entretenimento e o jornalismo pode ser a consciência.
Consciente/inconsciente, até onde vai esse limite, ou contraponto? Bom tema para retomar em um próximo encontro, assim como a questão do gozo imaginário/gozo fálico, o valor de gozo (no seminário 14), o real.
Muitas perguntas, comentários, a platéia participando ativamente.
E Eugênio vai depois retomando, costurando:
Entretenimento, notícia, propaganda são esferas distintas. “Não devemos satanizar o entretenimento”. “O horóscopo é o momento em que o jornal fala de mim mesmo”. Um pouco de Adorno que fala que “o lazer é um prolongamento do trabalho” e “divertir-se é estar de acordo.” E isso está vivo hoje.
Sobre a discussão de uma possível degradação do jornal, concorda que há que se pensar quando se faz jornalismo e quando é puro entretenimento, mas com o cuidado de “não cair no moralismo; a indignação moral é um outro aspecto e este pode levar à uma reflexão ética”.
“Horizontalmente não há uma sociedade de massa, mas verticalmente, há no mundo o domínio de 6 grandes conglomerados na área de mídia/entretenimento.” Ao tratar de Ciência, a imprensa tem um papel de despertar a curiosidade, podendo mesmo vir a mobilizar, especialmente em jovens, interesses futuros.
Existe um compromisso da imprensa com a verdade dos fatos, ainda que esta verdade seja precária, mas que se mostra relativamente, quando exercida com liberdade. É necessário procurar conhecer os processos, mas sem cair na “utopia de uma consciência total.”
“Não é importante falar de televisão para crianças na escola, mas, sim, fazer com que elas escrevam o que pensam.”
“O primeiro dever da imprensa é ser livre!”.
“A imprensa trata de segredos; para desvendá-los e torná-los públicos é que o jornalismo é necessário. Censura é violência.”
Ao fazer uma análise contundente da censura que vem sendo feita ao Estadão posiciona-se a favor da publicação da sentença na íntegra. E algumas pontuações e sínteses colocados por Forbes:
“a comunicação não é mais só simbólica”
“querer decodificar o valor da imagem é porque o que não é decodificado te toma”
“o real é absolutamente impossível de ser nomeado mas é ponto de atração social.”
“no sentido antigo da psicanálise o analista da sociedade seria a imprensa”
Forbes pega um pequeno vaso sobre a mesa com uma única rosa. Comenta que era um botão entreaberto no início da conversa, mas agora, passado pouco mais de duas horas, estava totalmente aberto.
E se volta a Eugênio, que declara: “A rose is a rose, is a rose…”
Grande noite!
Nota: recorri ao Twitter de alguns “ipletes” para me certificar de algumas anotações.
thais barros