Selecionamos embriões – e nem sempre os “melhores”. Pais anões selecionam anões. Surdos selecionam surdos. A maioria, no entanto, escolhe os mais bonitos e inteligentes. Caminhamos, talvez, para uma eugenia? A seleção natural darwiniana está sendo contestada?
A escola perdeu o bonde da história. Professores se desesperam com o desinteresse dos alunos em aprender conforme os métodos disciplinares e hierárquicos. A geração Google não entende o decorar e o repetir. Crise geral.
Surge um “novo amor”. Não se ama mais em “nome de”: filhos, herança, tradição, religião etc. Se uma pessoa está com outra é porque quer, mesmo que reclame. O “novo amor” é a nova transcendência humanista.
É determinação biológica ou escolha? Todas as formas de amor são possíveis e valem a pena? Esses debates ocupam como nunca dantes a cena social.
Há mais divórcios que antes, na medida em que não se fica junto por qualquer tipo de suposta obrigação. Por outro lado, se é mais responsável no amor.
O trabalho passa a ser associado diretamente à vida da pessoa. Não é mais um local onde se ganha dinheiro, para gastá-lo no que importa. O trabalho em si tem que importar. É impressionante o número de jovens que não se interessam por planos de carreira baseados no ganho certo e na segurança da estabilidade.
Empresas deverão ser editoras de cultura, mais do que simples patrocinadoras.
Muitas mulheres estão congelando óvulos sadios para melhor escolherem o momento de engravidar. Ao mesmo tempo, jovens casais querem ter logo filhos para que esses tenham pais moços. Como em tudo, não há regra.
Quase todas as pessoas terão duas ou três profissões diferentes.
O entretenimento deverá se articular com a cultura.
Não haverá mecanismos de seguridade social que suportem uma população que aumentou em 30% a expectativa de vida e que continua aumentando. O pai não será mais o provedor e o sábio. Filhos e Pais entrarão em crise de identidade.
Hoje podemos mais do que desejamos. Esse aspecto fica muito evidente na definição da hora da morte. O que era “morte natural” passou a ser morte escolhida, uma vez que a tecnologia prolonga em muito a vida mecânica.
Essas mudanças têm sido tratadas com velhos remédios, por falta de algo melhor. São necessários novos conceitos e práticas para legitimar TERRADOIS. Nossos mapas envelheceram, com eles nossa clínica, e, no entanto, continuamos a navegar por eles. Temos naufragado repetidamente. Basta ver os crimes inusitados de filhos matando pais e vice-versa, a atual epidemia de tóxicos, o aumento da bulimia e da anorexia, das peles escarificadas, de pessoas deletando pessoas, o desajuste da representação política, as crises de governança e de posicionamento das empresas etc, etc.
Se não formos capazes de habitar TERRADOIS, veremos continuar crescendo as soluções para trás, reacionárias, dos livros de “autoajuda”, no plano laico, e das novas igrejas, no plano espiritual, exibindo exorcismos nas madrugadas televisivas.
Necessitamos de uma clínica psicanalítica que mostre, elucide, convide à fantástica experiência de estabelecer novas formas de viver e se relacionar, tanto no nível do indivíduo, como das instituições. TERRADOIS não pode continuar sendo vista como uma terrível ameaça, mas ao contrário, enorme chance para a humanidade se reinventar.
Proponho-me a analisar os tópicos listados quanto às diferenças entre viver ou em TERRAUM ou em TERRADOIS, à luz da última parte do ensino de Lacan, em especial o Seminário 23, O SINTHOMA, e dos textos freudianos que aludem ao Real incognoscível.
Jorge Forbes
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4ᵃ capa para o livro “A Guerra das Inteligências na Era do ChatGPT” de Laurent Alexandre (Editora Manole). Ei, acordem! Acordem das certezas fabricadas, das vidas meticulosamente planejadas, das palavras de ordem tão vazias quanto repetitivas: propósito, gratidão, empoderamento, superação, eu-feliz, fora da caixa, blá blá blá. Acordem não para forjar novos e rígidos padrões normativos, […]